sábado, 12 de setembro de 2009

O pesadelo em que nos metemos

Já aqui disse que trouxemos uns tantos móveis antigos para esta nova casa. Há longos meses que sonho restaurá-los, reciclar alguns. Muitas das divisões da casa começaram a ser pensadas a partir deste ou daquele móvel.

Temos andado encantados com a ideia de poder misturar relíquias com outros estilos de móveis.

Acontece que todos eles foram atacados pelo caruncho, o famoso bicho-da-madeira, uns mais do que outros, mas nenhum escapou.

Com o transporte, alguns dos pés dos móveis desfizeram-se (sim, pareciam farinha), tal era o estado de destruição (galerias e mais galerias que tornaram a madeira oca e frágil).

Há 15 dias iniciámos o tratamento com o Cuprinol, munidos de máscaras e seringas. Tratámos alguns, mas dado o trabalho minucioso que implica, outros ficaram para mais tarde.

Andavamos tão contentes na nossa doce ignorância, tão alheados do perigo que trouxemos para dentro de casa (esta faz-me lembrar de repente o filme "Dormindo com o Inimigo").

Temo-nos vindo a informar mais e melhor sobre esta praga e o que andamos a descobrir é perfeitamente assustador. Tão assustador que não sabemos o que havemos de fazer.

E o que descobrimos nós, então?

- deve-se sempre evitar pôr em contacto madeiras atacadas com madeiras livres destes insectos;

- não há tratamentos eficazes no combate ao bicho-da-madeira (nem mesmo as casas especializadas que fazem expurgação de madeiras atacadas conseguem garantir a 100% um extermínio total);
- o tratamento não mata os ovos do caruncho e, por isso, é necessário garantir a desinfecção da madeira afectada em todas as fases do ciclo de vida do bicho (ovo, larva, crisálida e adulto);
- é necessário garantir a total penetração do veneno na madeira (como garantir que a aplicação que se fez é suficiente?; como garantir uma total absorção do fluído pela madeira?; haverá sempre zonas em que a carga de insecticida será sempre menor, em que haverá uma menor ou mais fraca penetração do produto...).

Logo:

- nada nos garante que o bicho não volte a emergir, a acasalar e a pôr ovos, dando seguimento à sua actividade;

- além disso, estudos recentemente feitos demonstraram que por uma questão evolutiva, e como forma de garantir uma maior sobrevivência da espécie, o caruncho tem a capacidade de pôr os seus ovos abaixo da superfície, nos túneis velhos, para que estes fiquem mais protegidos de ataques externos.

Conclusão: Os ovos e a subsequente eclosão das larvas ficam a maior parte das vezes abaixo do tratamento aplicado. Uma vez que a infestação continua, o tratamento passa a ser considerado como falhado.

(O tratamento ao bicho é mais eficaz na prevenção do que na solução de tratamentos).

Já nos informámos com várias pessoas, já ouvimos várias histórias de arrepiar, desde:

...O senhor que tem um móvel atacado pelo bicho, que todos os anos assegura o tratamento com Cuprinol e outros desinfectantes semelhantes, mas que não consegue combater o malvado e chega mesmo, em determinada horas silenciosas do dia, a ouvi-lo ratar, roer, o seu rico móvel...

...A senhora que alugou o apartamento a um casal que lá colocou uma mobília atacada pelo bicho e ao fim de alguns anos tinha todo o chão de madeira da casa, bem como portas, completamente destruídos...

...e outras histórias com um final nada feliz... :(

E o que nos passa agora pela cabeça? Não sei...
Temos um tecto da sala e hall em madeira, temos um corredor e 3 quartos com o chão em carvalho, temos portas, etc... tudo de madeira.

Estamos à espera de receber móveis em madeira, que não foram nada baratos...

Já pensámos até pagar novamente a uma transportadora para devolver os móveis todos de volta ao sítio de onde foram retirados (uma solução desesperada, mas o que pensar depois disto?)

Ter estes móveis era um sonho, mas será que vale a pena arriscarmos a pagar tão caro por ele?

O risco é enorme perante a hipótese, não tão remota quanto isso, de vermos todas as madeiras destruídas daqui a poucos anos :(
Já não sei o que pensar, nem o que decidir... e só sei que nos falta tempo para tudo isto :(

18 comentários:

  1. Como compreendo!
    Também eu luto com isto diariamente! Herdei uns quantos móveis antigos e para além de lutar contra o meu marido que não os aprecia, tenho que lutar com os "bichinhos". A minha sorte é que a maior parte deles não tem bicho e estiveram em contacto com soalhos infestados (a casa onde estavam está a ser restaurada)e o bicho não lhes pegou.
    O meu conselho é, se estiverem com muito bicho o melhor é não aproveitar pois, por experiÊncia própria vai pegar aos soalhos. Se pelo contrário tem pouco bicho aí sim tentar acabar com eles!
    Boa sorte! É melhor pensar bem pois são relíquias com muita história que retiram de uma casa o aspecto de hotel, impessoal e sem alma.
    Beijinhos.
    Anel

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  2. Olá, Anel
    Obrigada pelo teu testemunho.
    Esta manhã contactámos com uma empresa de expurgo de móveis e a pessoa que falou connosco não poderia ser mais sincera. Uma madeira atacada e quando muito atacada é complicada de tratar e eles apenas dão garantia de 3 anos. E o que nunca, mas nunca se deve fazer é levar móveis infectados para uma casa onde tenham contacto com madeiras novas. Daquilo que me informei há espécies de caruncho cujo ciclo de vida é de 7 anos. Dá que pensar. O P. não está disposto a ficar com eles. Eu olho para os móveis e dá-me uma dor de alma só de pensar que não ficaremos com eles. Já tivemos várias discussões acesas sobre o assunto e eu neste momento sinto-me verdadeiramente triste e impotente para tomar uma decisão. Por ele os móveis não ficam cá...

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  3. Pois é. Compreendo também esta parte das discussões...
    Parece que temos quase que escolher entre ele e os móveis, entre ele e recordações muito bonitas de pessoas que muito te disseram e que vão estar sempre no teu coração e, no meu caso recordações de antepassados que nem conheceste mas que por cartas e outros testemunhos deixados e descobertos há pouco, te deixam conhecer esses tempos de há um século e meio atrás e pelos quais te sentes fascinada. É verdade tenho relatos com mais de 150 anos e que falam nos ditos móveis, como os compraram, o que guardavam. Felizmente muitos, mesmo em contacto com madeira contaminada, estão bons.
    Fico agoniada só de pensar o que estás a sentir! Parece que te estão a arrancar um bocado de ti não é?
    Mas, mesmo sem muitas vezes o conseguir fazer, tens que pensar que móveis são objectos e o que importa mesmo são as pessoas e quem te rodeia agora no presente. Se não tiveres alternativa, tira umas fotos bonitas e faz uns quadros com elas! Vais conseguir fazer alguma coisa para os perpectuar, tenho a certeza. Beijinhos
    Anel

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  4. Amiga, nem sei o que te diga.
    Sei o quanto gostas desses móveis mas dada a situação penso que terás de pensar no que é melhor para todos.
    Todos os móveis têm muito bicho?
    Eu no teu lugar, não ficava com os móveis que têm muito bicho. Pelo que contas, calculo que devem ter pois dizes que os pés se desfizeram.
    Não queiras uma praga na tua casa nova.
    Beijos

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  5. Bem...até eu estou c\ o coração apertado...

    Sabes, mais vale um pássaro na mão q dois a voar...joga pelo seguro, mais vale prevenir!

    E ñ fiques tristinha, tenho a certeza q irão conseguir á mesma dar o vosso cunho pessoal ao vosso "ninho"!

    Sê pragmática...e ñ discutam...pelo menos, ñ discutam por isso!
    Vocês estão a passar por uma experiência tão gira, a de "nidificar", q ñ se podem deixar levar por sentimentos tão emotivos em relação a uns móveis...pq, no final de contas, ñ passam mm de móveis!

    Fica a ideia de misturar o antigo e o vintage c\ o moderno e actual!
    E enquanto houver Feira da Ladra, há esperança!
    Ah, e lojas de antiquários, mas isso já é p\ outras bolsas!

    Um grande beijiño!

    Rut

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  6. Ai...
    no que te meteste...
    Acho que não arriscaria a contaminar os restsntes móveis, portas, chão e por aí fora, mas quando os móveis em causa têm valor sentimental a decisão deixa de ser tão racional, e a escolha deixa de ser óbvia. Nunca é fácil abdicar daquilo que gostamos muito, e tentamos e acreditamos sempre que existirá uma solução.
    Já pensaste em fotografá-los e revelar num formato maior, para decorar alguns recantos?

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  7. Olá ;)

    Dá uma espreitadela no meu blog :P
    www.ocantinhodamimi.blogspot.com

    Beijos*

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  8. Obrigada pela vossa opinião.
    Parece surreal, mas este fim-de-semana cheguei a chorar por causa dos móveis. Nem eu própria me imaginei a viver uma situação destas. Claro que em consciência sei que não devo ficar com eles. Depois da lavagem de alma decidi de forma racional que não posso ficar com eles. Já não os tenho cá dentro de casa. Foram levados para a garagem até se decidir qual vai ser o seu futuro.
    Penso que é a melhor solução.
    Beijinhos a todas*

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  9. Ainda n te tinha escrito nada, porque não sabia bem o que dizer e em relação ao bicho não entendo mt... Os móveis estão todos muito danificados, não há nenhum que escape? De qq forma acho que optaste de uma forma sensata... bjinho

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  10. Há móveis que foram mais atacados do que outros. Por exemplo, a cómoda que estava pensada para o nosso quarto nem está muito danificada, de qualquer forma não escapou ao bicho. Sinceramente, agora que estou tão bem informada quanto à praga do caruncho, não me apetece arriscar. Aliás, toda esta informação que fui obtendo por quem realmente entende do assunto já me leva a olhar com outros olhos tudo quanto seja relíquia e tenha caído nas mãos do caruncho, independentemente de ter feito muitos ou poucos estragos. É realmente um assunto muito sério e grave que a maior parte das pessoas desconhece. ode-se estar a trazer mesmo o inimigo para dentro de casa e passa-se a partir dessa altura a viver um filme de terror.
    Por estes dias ando a fazer o meu luto, a minha despedida... Custa-me muito mesmo, mas acho que é a opção mais sensata :(

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  11. É realmente um situação chata :(

    Depois de teres tudo pensado em voltas desses móveis acredito que a perda seja ainda maior.

    Mas tomaste a decisão correcta....era um inimigo gigante dentro de casa!

    Vais ver que consegues dar a volta por cima. Depois das coisas que temos visto aqui não tenho dúvidas nenhumas que vais fazer um excelente trabalho, mesmo sem esses móveis :)

    Bjitos

    P.S. O "Jonas" não está ao nivel do Billy, é apenas uma mini gama de secretárias e módulos de gavetas :)

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  12. Olá! Embora saiba que se fosse comigo já tinha mandado os móveis embora... Digo-te que o senhor que mora ao meu lado faz restauro de móveis, não sei o que ele pode fazer pelos teus, mas possívelmente pode ajudar. catiarmferreira@gmail.com

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  13. Eu achei uns baús antiquíssimos no lixo, eram lindos... e também fiz o mesmo tratamento para recuperá-los.
    Mas depois de ter gasto dinheiro nos produtos e tempo e tratá-los, acabei por desistir e deitá-los outra vez para o lixo.
    Justamente porque também fiz as mesmas descobertas que tu.
    E porque tenho muito amor aos nossos livros e comecei a pensar os riscos que eles corriam se eu mantivesse os baús em casa.

    Queres um conselho?
    Esquece... desiste dos móveis carunchosos para evitares males maiores. Eu sei, é um conselho chato de ouvir. Mas foi também o que acabei por fazer. E bem me custou, que os baús eram mesmo especiais.

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  14. Olá, Cátia Ferreira
    Obrigada pela disponibilidade para ajudar, mas uma coisa é restauro de móveis e outra é o tratamento de móveis infectados pelo bicho. Há muita tendência para se pensar que quem faz e faz bem o restauro de móveis antigos, também põe um ponto final no caruncho. Depois das descobertas que fiz em termos de informação sobre esta praga, não quero mais arriscar.

    Hazel:
    Obrigada pelo conselho e pela partilha do teu testemunho.
    É claro que tenho pena, mas já tomei a desição de desistir dos móveis. Quanto mais falo com pessoas que percebem do assunto, mais firme é a minha decisão de não voltar a enfiá-los dentro de casa. Agora é mesmo esquecer o assunto e começar a pensar em novos móveis para substituir os que estavam a ser pensados cá para casa.
    Beijinhos

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  15. Olá Luarte,
    Olha, não sei se ainda vou a tempo, mas vou contar a minha história:
    A minha experiência com o caruncho resume-se a duas peças... um roupeiro em pinho que estava no meu quarto, em casa dos meus Pais e que foi comprado novo e; a outra peça era um cabide em madeira com os ganchos metálicos, que era da minha Avó.
    Tentando abreviar para não ser longa... o roupeiro não pude fazer nada porque não via buraco nenhum, mas durante a noite ouvia nitidamente o barulho do caruncho a roer a madeira, a partir do momento em que vi o buraco comecei a injetar-lhe óleo de rícino com uma seringa pelo dito orificio. Já não me recordo bem porque foi há muito tempo.... mas o que é certo é que duarente uma ou duas semanas fiz isso.... nunca mais ouvi nada de roer a porta do roupeiro.
    Em relação ao cabide... estava cheio de pequenos orificios... injectei-lhes óleo de rícino pelos orificios até vir por fora... limpava.... e no dia seguinte punha mais.... andei nisto talvez uma ou duas semanas....
    Está na parde e é o que eu uso para os casacos e malas desde que vivo nesta casa. Acredito que tenha dado cabo do bico... porque se não tivesse já tinha visto serradura no chão do hall de entrada (como é em tijoleira escura, de certeza que já teria dado conta).
    Porque não experimentas dar óleo de rícino em todos os orificios? Em especial os que estão próximo de marcas de serradura?
    Claro está que depende do grau em que o móvel foi atacado... se no inicio ou não...
    Comigo resultou...
    Bjs.
    Teresa C.
    Nota: Lembro-me que o frasco do óleo de rícino é pequenino (ainda tenho cá em casa desde essa altura) e a seringa comprei-a numa farmácia e teve de ser a que tinha a agulha com o diametro maior porque o óleo custava a passar. Espero ter ajudado alguma coisa...

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  16. Teresa C: Obrigada pelo teu testemunho.
    Não conhecia o tratamento com o óleo de rícino.
    Espero que te tenhas livrado do bicho de vez.
    Mas desde que contactei casas de expurgo e numa delas uma senhora falou mais demoradamente connosco e nos disse que nem mesmo eles conseguem garantir a 100% a eliminação do bicho, fiquei sempre com o pé atrás em relação a qualquer tipo de tratamento que se possa aplicar a esta praga.
    Pode-se ter a sorte de nos conseguirmos livrar dela. Mas esse é um risco que tem de se correr e que só se saberá ao fim de muitos anos. E aí pode já ser tarde demais.
    Beijinhos e muito obrigada por este teu comentário e pela partilha dessa tua experiência.

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  17. Olá Luarte, eu adoro relógios de madeira antigos, e por inúmeras que já fiz o tratamento com óleo de rícino e parece resultar.

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  18. Ola',
    Tb tenho problemas c/ caruncho,ja passei formol( q qcaba c/ cupim), ja passei querozene mas eles voltaram com tudo.No se caso, quer um conselho?Taca fogo pois assim eles nao vao prejudicar mais ninguem!

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Obrigada pela visita e pelo vosso comentário :)